terça-feira, 20 de outubro de 2009

TU TOME TENTO COM MEU CORAÇÃO



ALTAR PARTICULAR
(Maria Gadú)
Meu bem que hoje me pede pra apagar a luz
E pôs meu frágil coração na cruz
No teu penoso altar particular

Sei lá, a tua ausência me causou o caos
No breu de hoje eu sinto que
O tempo da cura tornou a tristeza normal

E então, tu tome tento com meu coração
Não deixe ele vir na solidão
Encabulado por voltar a sós

Depois, que o que é confuso te deixar sorrir
Tu me devolva o que tirou daqui
Que o meu peito se abre e desata os nós

Se enfim, você um dia resolver mudar
Tirar meu pobre coração do altar
Me devolver, como se deve ser

Ou então, dizer que dele resolveu cuidar
Tirar da cruz e o canonizar
Digo faço melhor do que lhe parecer

Teu cais deve ficar em algum lugar assim
Tão longe quanto eu possa ver de mim
Onde ancoraste teu veleiro em flor

Sem mais, a vida vai passando no vazio
Estou com tudo a flutuar no rio esperando a resposta ao que chamo de amor

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

ACREDITAR, ACREDITAR E ACREDITAR

" ...então penso que está certo assim, na nossa sede infinita (Drummond) acreditar e levar porrada mas voltar a acreditar e cair do cavalo e não deixar de acreditar e se desenganar e se arrebentar mas continuar acreditando que, de alguma forma, há alguma resposta de humano para humano. E que amar o humano do outro é aceitar e amar teu próprio humano, e que esse é o único jeito, o único way-out possível: procurar no humano do outro a saída do nosso próprio humano sem solução. (...) E pouco importar que tudo tenha sido ou continue sendo fantasia ou carência, porque é assim que as coisas são, e é através disso - e só disso, venusiano total - que posso crescer, e então quero crescer, e não me importo nem um pouco de voltar e acreditar e de ficar todo aceso e mais delicado para olhar as coisas, qualquer coisa."

(Caio F.)

sábado, 10 de outubro de 2009

CONSTATO

BOCA

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NUCA
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MÃO
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E A TUA MENTE? NÃÃÃÃÃÃÃÃÃO!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

SEMPRE SE PODE CANTAR

"Continuo a pensar que quando tudo parece sem saída, sempre se pode cantar. Por essa razão escrevo."

Caio F.

A vida acontecendo, o dia correndo, os afazeres se acumulando e eu só sei lhe observar. Será que chora de dor ou de alegria? Será que se distrai com a felicidade ou com a agonia? Não sei, não sei... o que sei é que te observo, e com os olhos brilhantes. Não, não te quero. Já me convenci de que você fica bem mais bonita na minha estante. Um adereço que eu posso usar como inspiração quando a mesma me falta. Sim, eu sei que a vida é boa para ser vivida, mas eu gosto de contá-la aqui, na realidade do papel. Não fosse você, certamente seria outra. E eu continuaria a contemplar o que delicadamente chamo de saudade.

É SÓ MAIS UM BLÁ-BLÁ-BLÁ

E então eu me dou conta de que o que faltou pra mim foi paixão. Paixão ardente, daquelas que a gente quer e não importa se é gula, olho grande, ganância. A gente quer é se lambuzar. A gente quer e ponto. E aí arma escândalo na porta de casa, rasga a camisa porque suspeita de traição, cheira o cangote e descobre um perfume diferente, fica irada com o telefonema clandestino. Mas também, no ápice da lucidez, comete loucuras deliciosamente apaixonadas: um mar de rosas que inunda o apartamento de 50m², um avião para Quixeramobim só pra dizer oi e dar um beijo de bom dia, arranca o outro do convívio social e passa uma semana inteira no quarto, na cama, se alimentando de beijos e carícias e orgasmos múltiplos. Agora amor... amor eu sempre tive. Nunca me queixei de falta de amor. Amei, desamei, amei de novo. Levava a vida crente de que amar era o que bastava, era o final único para o encontro com a felicidade. É claro que existiam ingredientes para que houvesse O Amor (cumplicidade, respeito, carinho...), mas ele, por si só, me resgataria de todo o mal que eu houvesse praticado e me deixaria cara a cara, na boca do gol, em paz com Deus. Já a paixão sempre tentou me pegar pelas pernas, e dela eu sempre fugia. Aquela atitude polida, reta, concreta. Não, veja bem, ciúme é doença, é até uma irracionalidade sem tamanho – eu dizia. E desde quando paixão rima com razão? Ah, quanto desperdício de intelecto. Poderia eu recitar intelectuais poemas na tua boca, diretamente, sem precisar gastar saliva com palavras que seriam um dia esquecidas. O cheiro, o gosto, o tesão, não, isso não se esquece. Palavras a gente ouve todos os dias, a todo momento. São bonitas, feias, encantadoras, histéricas e só. É sempre um blá-blá-blá que não respeita fronteiras. Palavras não precisam de passaporte. Entram, clandestinas, em qualquer país, em qualquer cidade, em qualquer ouvido desavisado. Já a paixão... ou se tem a chave dessa coisa que queima, ou não. Ou se credencia na portaria, com nome, RG e foto 3x4, ou morre à míngua. Paixão não é pra qualquer um não. Paixão, mesmo com passaporte amarelo, é aquela que encara o fiscal da imigração, sorri com os dentes mais brancos que alguém já pode ter visto, hipnotiza o capataz da fronteira e adentra sem rumo. Ou com o rumo certo, certeiro. Paixão não tem pátria. Não escolhe nome, nem endereço. É cidadã do mundo. Paixão é o que me falta.

MAS, APESAR DE, A GENTE SACODE A POEIRA...

"Está tudo planejado:
se amanhã o dia for cinzento,
se houver chuva
se houver vento,
ou se eu estiver cansado
dessa antiga melancolia
cinza fria
sobre as coisas
conhecidas pela casa
a mesa posta
e gasta
está tudo planejado
apago as luzes, no escuro
e abro o gás
de-fi-ni-ti-va-men-te
ou então
visto minhas calças vermelhas
e procuro uma festa
onde possa dançar rock
até cair"

Caio F.

Vem feriado, vem...

CHUVA E FRIO NA TERRA DAS PARTÍCULAS PRETAS

"Menos pela cicatriz deixada, uma ferida antiga mede-se mais exatamente pela dor que provocou, e para sempre perdeu-se no momento em que cessou de doer, embora lateje louca nos dias de chuva."

Caio F.

Na terra da garoa, quando há escassez de garoa, o que mais se vê é poluição (ironias sempre acontecem). E então tem-se no céu partículas pretas que se acumulam e formam uma névoa de... de... partículas pretas, o que deixa o céu azul-cinzento e o ar "irrespirável". Estamos na primavera e o sol deveria estar raiando firme e forte nesse firmamento azul-acinzentado que só São Paulo (e algumas megalópoles do mundo) consegue ter. Estamos na primavera e muitos ipês estão dançando ao sabor do vento desse dia frio e garoento. Chuva e frio tornam o ar respirável, e a umidade relativa do ar, sem poluição, deve estar relativamente benéfica para os seres que sofrem da desagradável sinusite e/ou rinite. Eu sou uma dessas pessoas. Hoje minhas narinas deveriam estar em festa, contentes e a todo vapor. Hoje meus pulmões deveriam tecer gratidão ao divino que habita essa cidade e que nos emprestou a chuva como forma de recompensa por todo o calor e desgosto que sofremos nos dias que se passaram. Hoje eu deveria estar em festa, não fosse pela cicatriz que resolveu latejar e latejar e latejar. E quando me dei conta do incômodo, olhei para o meu eu por completo e descobri que além da dor, também não estou respirando. Apesar de toda a chuva, de toda umidade e de todo o vento de bons presságios, acabo de descobrir que o meu ar torna-se irrespirável quando não lhe vejo.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

A PRIMEIRA PEDRA

Atire a primeira pedra
Quem não sofreu, quem não morreu por amor
Todo corpo que tem um deserto
Tem um olho de água por perto
Para ouvir basta abrir os poros
Para aceitar basta oferecer
Para quê adiar um desejo
De alguém que lhe quer tanto beijo
Quem de vocês
Resiste a uma tentação
Quem pretende revogar a lei do coração
Quem ousaria
Dessas vozes duvidar
Deixa a sua natureza se manifestar

(Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte)

terça-feira, 6 de outubro de 2009

POEMA IMUNDO

E um coração que bate
Tic tac tic tac
Um coração que bate
Tic tac tic tac
Um coração que bate
Tic tac tic tac

Um corpo desajeitado e grande
Que ocupa um lugar no espaço
Um lugar no espaço
Que toma um lugar no espaço
Que inutiliza um lugar no espaço
E um coração alagado
Um coração tictaqueado
Um coração idiotizado, banalizado
Um coração maltratado
No cosmo do meu quarto

Um poema sujo que guarda o nome dela
O cheiro do sexo
O cheiro de boceta e de cu
O meu cheiro
Um poema imundo que esquece o nome dela

Uma dose forte de Ferreira Gullar
E mais uma dose
Mais uma dose
Só uma dose
Sem pretensão
Sem distinção
Sem enganação

Um amor que caiba nos meus textos
E nos meus sonhos
E nos seus olhos
E em mais nada
E em mais nada
É só o que quer
Esse coração disléxico
Nascido há 27 anos
Que bate descompassado
Debaixo do peito, do seio, do mamilo, do bico
Escondido da chuva, da primavera, do verão e do frio
Covarde, patriota, aliado da burguesia
Delator dos (sacanas) interesseiros
Aliado da vida e da morte
Aliado de Deus...

É só o que quer
Só o que quer
Esse meu coração de menina

Tic tac tic tac tic tac tic tac tic tac tic tac tic tac tic tac tic tac tic tac tic tac tic tac tic tac tic tac tic tac.

domingo, 4 de outubro de 2009

SEM TÍTULO

And what I wouldn't give to find a soulmate
Someone else to catch this drift
And what I wouldn't give to meet a kindred
Enough about me
Let's talk about you for a minute
Enough about you
Let's talk about life for a while
The conflicts, the craziness
And the sound of pretenses falling
All around, all around
Why am I so petrified of silence?
Here, can you handle this?
Did you think about your bills, your ex, your deadlines?
Or when you think you're gonna die?
Or did you long for the next distraction?
And all I need now is intellectual intercourse
A soul to dig the hole much deeper
And I have no concept of time, other than it is flying
If only I could kill the killer
And all I really want is some peace, man
A place to find a common ground
And all I really want is a wave-length
And all I really want is some comfort
A way to get my hands untied
And all I really want is some justice

 
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