quinta-feira, 23 de julho de 2009

“RE-DISTRAINDO”

POR NÃO ESTAREM DISTRAÍDOS (CLARICE LISPECTOR)

Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria e peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos!

Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.

distraídos

PS: a esperança é a última que morre.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

AND I DO WHAT I DO (by Luiza)

sentada 

Proibido andar em círculos.
Pena: de 3 meses a 2 anos de detenção.

 

Peguei aqui

Acessem o novo blog da minha querida amiga Luiza

PS: Lu, PER-FEI-TO! Você é sempre demais. Beijo grande.

terça-feira, 21 de julho de 2009

ESPERA(NÇA)


enquanto espero a hora, conto-as
e na espera, anseio
e no anseio, des-espero
e penso em você
em dias desiguais
em luas cheias
em noites quentes.
enquanto conto as horas, sufoco
e então contos os dias
(os que já se passaram)
e tranquilizo.
enquanto te desejo, visito a saudade
e na casa saudade mora a esperança
(esperança?)
muito prazer, dona esperança - você eu não conhecia.

então espero, sentada
e esperançada.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

BABE, PLEASE

segunda-feira, 13 de julho de 2009

ENCONTRO

coracao-janela-chuva

Quando em minha imaginação você existia, e só lá morava, eu sabia o que fazer com meu pensamento: bastava desviá-lo para o prático, o racional, e a vida voltava ao normal. Bastava não pensar em flores, em manhãs ensolaradas, em taças de vinho pelo quarto, em música e velas. Bastava não querer nada além de uma boa xícara de café e chuva batendo no telhado. Quando só te sabia em minha imaginação, era fácil sair às ruas e saber o que fazer. Meus pés sabiam para onde ir, por onde andar e como chegar. Minhas mãos nunca estavam vazias, apesar do coração, e eu sabia o que fazer com elas, sempre. Mas quando em minha imaginação você apareceu, confesso que desejei que fosse algo além dela, da imaginação, e que eu pudesse então finalmente sorrir enquanto colocasse a mesa para duas pessoas, com um par de taças de cristal, velas e um par de guardanapos com bordinhas bordadas. Pois bem... agora que você existe não sei o que fazer com a tua ausência, mesmo te sabendo real. Você saiu da minha imaginação, sua morada agora é em outro lugar, mas se soubesse onde te colocar, enquanto está ausente, provavelmente não ficaria perdida olhando fotos tuas, e imaginando a careta do momento da foto. Agora que está aqui, aí e ali, me perco em pensamentos que só direciono a você, e não há racional algum que me faça parar de pensar. Nada de praticidade, meu coração só quer sentir, e sentir e sentir. Agora que você existe de verdade, e só para mim, eu penso em flores, em manhãs ensolaradas, em taças de vinho pelo quarto, em música, em velas e no quanto eu te quero do meu lado, mesmo que o cenário não seja necessariamente o que imaginei. Agora quero duas xícaras de café, chuva batendo no telhado e dois pares de pés se encostando debaixo do edredom. Agora meus pés não sabem mais para onde ir, porque qualquer destino que não seja ao teu encontro não os interessa. Mas eles continuam sabendo como chegar, porque sempre souberam do meu desejo por você. Eles sabiam que era você quem morava em minha imaginação. E tanto sabiam que me levaram ao teu encontro, sem nem mesmo eu saber para onde estava indo.

 
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