"Menos pela cicatriz deixada, uma ferida antiga mede-se mais exatamente pela dor que provocou, e para sempre perdeu-se no momento em que cessou de doer, embora lateje louca nos dias de chuva."Caio F.
Na terra da garoa, quando há escassez de garoa, o que mais se vê é poluição (ironias sempre acontecem). E então tem-se no céu partículas pretas que se acumulam e formam uma névoa de... de... partículas pretas, o que deixa o céu azul-cinzento e o ar "irrespirável". Estamos na primavera e o sol deveria estar raiando firme e forte nesse firmamento azul-acinzentado que só São Paulo (e algumas megalópoles do mundo) consegue ter. Estamos na primavera e muitos ipês estão dançando ao sabor do vento desse dia frio e garoento. Chuva e frio tornam o ar respirável, e a umidade relativa do ar, sem poluição, deve estar relativamente benéfica para os seres que sofrem da desagradável sinusite e/ou rinite. Eu sou uma dessas pessoas. Hoje minhas narinas deveriam estar em festa, contentes e a todo vapor. Hoje meus pulmões deveriam tecer gratidão ao divino que habita essa cidade e que nos emprestou a chuva como forma de recompensa por todo o calor e desgosto que sofremos nos dias que se passaram. Hoje eu deveria estar em festa, não fosse pela cicatriz que resolveu latejar e latejar e latejar. E quando me dei conta do incômodo, olhei para o meu eu por completo e descobri que além da dor, também não estou respirando. Apesar de toda a chuva, de toda umidade e de todo o vento de bons presságios, acabo de descobrir que o meu ar torna-se irrespirável quando não lhe vejo.
0 comentários:
Postar um comentário