sexta-feira, 9 de outubro de 2009

É SÓ MAIS UM BLÁ-BLÁ-BLÁ

E então eu me dou conta de que o que faltou pra mim foi paixão. Paixão ardente, daquelas que a gente quer e não importa se é gula, olho grande, ganância. A gente quer é se lambuzar. A gente quer e ponto. E aí arma escândalo na porta de casa, rasga a camisa porque suspeita de traição, cheira o cangote e descobre um perfume diferente, fica irada com o telefonema clandestino. Mas também, no ápice da lucidez, comete loucuras deliciosamente apaixonadas: um mar de rosas que inunda o apartamento de 50m², um avião para Quixeramobim só pra dizer oi e dar um beijo de bom dia, arranca o outro do convívio social e passa uma semana inteira no quarto, na cama, se alimentando de beijos e carícias e orgasmos múltiplos. Agora amor... amor eu sempre tive. Nunca me queixei de falta de amor. Amei, desamei, amei de novo. Levava a vida crente de que amar era o que bastava, era o final único para o encontro com a felicidade. É claro que existiam ingredientes para que houvesse O Amor (cumplicidade, respeito, carinho...), mas ele, por si só, me resgataria de todo o mal que eu houvesse praticado e me deixaria cara a cara, na boca do gol, em paz com Deus. Já a paixão sempre tentou me pegar pelas pernas, e dela eu sempre fugia. Aquela atitude polida, reta, concreta. Não, veja bem, ciúme é doença, é até uma irracionalidade sem tamanho – eu dizia. E desde quando paixão rima com razão? Ah, quanto desperdício de intelecto. Poderia eu recitar intelectuais poemas na tua boca, diretamente, sem precisar gastar saliva com palavras que seriam um dia esquecidas. O cheiro, o gosto, o tesão, não, isso não se esquece. Palavras a gente ouve todos os dias, a todo momento. São bonitas, feias, encantadoras, histéricas e só. É sempre um blá-blá-blá que não respeita fronteiras. Palavras não precisam de passaporte. Entram, clandestinas, em qualquer país, em qualquer cidade, em qualquer ouvido desavisado. Já a paixão... ou se tem a chave dessa coisa que queima, ou não. Ou se credencia na portaria, com nome, RG e foto 3x4, ou morre à míngua. Paixão não é pra qualquer um não. Paixão, mesmo com passaporte amarelo, é aquela que encara o fiscal da imigração, sorri com os dentes mais brancos que alguém já pode ter visto, hipnotiza o capataz da fronteira e adentra sem rumo. Ou com o rumo certo, certeiro. Paixão não tem pátria. Não escolhe nome, nem endereço. É cidadã do mundo. Paixão é o que me falta.

3 comentários:

Uma pacata cidadã disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Karla disse...

Cá estou, comendo a minha salada de rúcula fresca, colhida diretamente da minha horta e resolvi ler o dia 09 aqui em seu espaço.
E Blaft! Apaixonei-me.
Cuvando-me mais ainda!!rs.
Sim, a paixão movimenta as entranhas, os poros, os pêlos,os 5 setidos e mais outros que aparecem e sai arrancando a lucidez,e como é bom não ser lúcida sempre, não?!
Bj

Rasgo de apaixonada lucidez? rs disse...

Quem sabe não está nascendo um coração,(rs)
não encardido, mas...encarnado...
reencarnado, enfim!
de carne sim, além de espírito...
mas não despreze toda a razão, emoção, sabedoria...
vai ver q tem lugar pra tudo...rs...
há pessoas que têm lugar na vida e...
é só isso...
toda a vida pode e deve ser usada...
usufruída.
desejo boa sorte...rs

bjo.

 
BlogBlogs.Com.Br