Quando em minha imaginação você existia, e só lá morava, eu sabia o que fazer com meu pensamento: bastava desviá-lo para o prático, o racional, e a vida voltava ao normal. Bastava não pensar em flores, em manhãs ensolaradas, em taças de vinho pelo quarto, em música e velas. Bastava não querer nada além de uma boa xícara de café e chuva batendo no telhado. Quando só te sabia em minha imaginação, era fácil sair às ruas e saber o que fazer. Meus pés sabiam para onde ir, por onde andar e como chegar. Minhas mãos nunca estavam vazias, apesar do coração, e eu sabia o que fazer com elas, sempre. Mas quando em minha imaginação você apareceu, confesso que desejei que fosse algo além dela, da imaginação, e que eu pudesse então finalmente sorrir enquanto colocasse a mesa para duas pessoas, com um par de taças de cristal, velas e um par de guardanapos com bordinhas bordadas. Pois bem... agora que você existe não sei o que fazer com a tua ausência, mesmo te sabendo real. Você saiu da minha imaginação, sua morada agora é em outro lugar, mas se soubesse onde te colocar, enquanto está ausente, provavelmente não ficaria perdida olhando fotos tuas, e imaginando a careta do momento da foto. Agora que está aqui, aí e ali, me perco em pensamentos que só direciono a você, e não há racional algum que me faça parar de pensar. Nada de praticidade, meu coração só quer sentir, e sentir e sentir. Agora que você existe de verdade, e só para mim, eu penso em flores, em manhãs ensolaradas, em taças de vinho pelo quarto, em música, em velas e no quanto eu te quero do meu lado, mesmo que o cenário não seja necessariamente o que imaginei. Agora quero duas xícaras de café, chuva batendo no telhado e dois pares de pés se encostando debaixo do edredom. Agora meus pés não sabem mais para onde ir, porque qualquer destino que não seja ao teu encontro não os interessa. Mas eles continuam sabendo como chegar, porque sempre souberam do meu desejo por você. Eles sabiam que era você quem morava em minha imaginação. E tanto sabiam que me levaram ao teu encontro, sem nem mesmo eu saber para onde estava indo.
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