segunda-feira, 16 de novembro de 2009

IMAGENS QUE PERMANECEM

De todas as maneiras que há para se guardar a imagem de uma pessoa, a pior é apelar para o computador. Sim, porque que imagens podem ser boas ou ruins. Algumas saem tremidas, outras com pouca luz, algumas perfeitas e outras nem tanto. Há imagens de todos os tipos, e para todos os gostos, e muito espaço para armazená-las quando se tem uma câmera digital em mãos. Talvez as imagens que nos tragam mais alegria sejam exatamente aquelas que o cérebro guarda, mesmo depois de já terem sido deletadas da memória do dispositivo portátil. Um sorriso, uma cara de felicidade, um olhar pensativo, ou apaixonado, aquela paisagem compartilhada: tudo é imagem, e todas são passíveis de ficarem na memória ad eternum.

Foi assim quando perdi o HD do meu notebook: as melhores imagens ficaram guardadinhas no imaginário do meu cérebro. Guardei aquela fotografia que tiramos naquele restaurante, cuja altura me causava mais vertigem que as noites loucas de amor (anos depois me senti feliz em saber que tu também se lembra com carinho não só da foto, mas do momento). Olhava a foto com um carinho tão terno que a cada vez que a via imediatamente teu cheiro vinha acompanhar minhas lembranças remotas. Nunca precisei do registro físico para acessar meu HD interno - bastava me apoderar do conforto do passado para que as imagens, todas elas, ficassem ao alcance dos meus mais puros sentimentos nessa minha mente tão poderosa.

Porém, e apesar de saber que nunca precisaria acessar os arquivos físicos para me lembrar dos bons momentos do passado, senti falta de te olhar mais uma vez. Porque mesmo com toda a minha desenvoltura mental, meus olhos ainda guardam um ceticismo antes detectado apenas em São Thomé: às vezes é preciso "ver para crer". Não que a imagem mental não me traga alegria - pelo contrário - mas ver teu retrato valida a minha desconfiança de que ainda não me tornei uma maluca, daquele tipo que conversa com gente invisível nas ruas e inventa histórias tão lindas quanto um romance de Henry James.

Hoje, ao te indagar sobre tais fotografias daquele passado em comum, uma flecha atingiu meu peito. É claro que sabia do risco de nunca mais reaver tais arquivos, uma vez que a maioria das pessoas opta por jogar o passado no lixo a fim de nunca mais caírem em tentação - não sabia se esse era seu caso. De qualquer forma, e sabendo do risco, não me furtei em perguntar: ainda tens as imagens? A resposta veio como um gosto azedo, talvez um ranço, mas no final teve sabor de pena: não sei, preciso procurá-las. E juro que vi em seus olhos uma tristeza de arrependimento, já que o movimento de descartá-las talvez tivesse sido precipitado - há sempre espaço para mais algumas imagens nos HD's da vida.

Conformada com o destino que tomou os bons momentos que compartilhamos, apenas lamentei o fato de não poder mais emprestar aos meus olhos alguma alegria, mesmo que passageira, quando o momento presente estivesse insuportável - se não servissem para nos presentear com alegrias clandestinas, de que valeriam as lembranças? E de súbito percebi que naquele instante seu olhar me devolvia um pouco daquela esperança que me acompanhou quando perguntei pelas tais fotografias: não, calma... ainda não sei se as joguei fora. Pode ser que não. Tenho uma pasta no meu computador chamada "Outras Imagens", vou vasculhá-la e te falo se tais imagens ainda existem.

De todas as maneiras que há para se guardar a imagem de uma pessoa, a pior é apelar para o computador: muitas pessoas podem se perder, algumas serem descartadas e outras ficarem esquecidas, num canto, ou numa pasta intitulada de "Outras Imagens".

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