sábado, 30 de maio de 2009

ALUCINAÇÕES PASSAGEIRAS

Vista_1 São 18 horas, exatamente. Eu gosto do outono, prefiro ele a qualquer outra estação, inclusive, mas uma coisa me incomoda. Não sei se pela proximidade do inverno, ou porque tenho acordado tarde devido ao quadro gripal (from hell) da semana, mas os dias estão indo embora muito rápido. São 18 horas e já é noite. A cidade está completamente acesa, e eu, quando olhei pela janela do quarto, assustei-me com a possibilidade do tempo ter passado e eu não ter reparado – parece mais que são 9 horas da noite, e as pessoas estão se comportando como “pessoas que esperam alguma coisa de um sábado a noite, onde, bem no fundo, todo mundo quer zoar”. O barulho é típico do sábado, e a temperatura está bem agradável: 16 graus. No céu de Sampa muitos aviões esperam pelo momento de pousar, lá em Guarulhos. Sim, daqui eu vejo os aviões que partem de, e chegam a, Guarulhos. Acho que se eu morasse no 30°, e não no 24°andar, eu conseguiria ver o mar da janela do meu quarto (febre causa alucinação, não repare). E eu tive muita febre essa semana. Mas já passou, ainda bem. É isso.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

INSANIDADE TEMPORÁRIA

Insanidade Temporária... causada pela TPM!

segunda-feira, 25 de maio de 2009

ELE FALANDO POR MIM

AINDA QUE MAL (Drummond)

Ainda que mal pergunte,
ainda que mal respondas;
ainda que mal te entenda,
ainda que mal repitas;
ainda que mal insista,
ainda que mal desculpes;
ainda que mal me exprima,
ainda que mal me julgues;
ainda que mal me mostre,
ainda que mal me vejas;
ainda que mal te encare,
ainda que mal te furtes;
ainda que mal te siga,
ainda que mal te voltes;
ainda que mal te ame,
ainda que mal o saibas;
ainda que mal te agarre,
ainda que mal te mates;
ainda assim te pergunto
e me queimando em teu seio,
me salvo e me dano: amor.

 

carlos drummond

A cada dia que vivo mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca… e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade.

Carlos Drummond de Andrade

domingo, 24 de maio de 2009

ENGUIÇOU

O meu orgulho já perdeu teu endereço, mas o meu coração não... eu não esqueço.

Eu, hoje, ando atrás de algo impressionante
que me mate de susto
um impulso, um rompante
que é pra me desviar desse mar de calmante
rodei New York inteira e não te achei
você mora em Belém

Eu sempre andei atrás de alguém pra andar na frente
ah, eu quis me apaixonar assim perdidamente
um engano redondo
o ciúme intuiu meio tarde demais
ah, o meu orgulho já perdeu teu endereço
mas o meu coração não
eu não
eu não esqueço

Eu, hoje, ando atrás de algo impressionante
que me mate de susto
um discurso, um romance
que é pra me desviar desse mar de calmante
rodei Belém inteira e não te achei
você mora com alguém...

Enguiço – Adriana Calcanhoto                     

sábado, 23 de maio de 2009

L’AMOUR

amor

Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil.

Clarice Lispector

E eu, que durmo com o amor pendurado na cabeça. E nele penduro pessoas e situações e frases e um pouco de mim. E porque eu acordo com ele na cabeça, e inevitavelmente o vejo sempre acima de mim, será por isso que não tenho mais fé nisso, nisso que chamam descuidadamente de AMOR? E com todas as letras maiúsculas, ainda! Vai ver que é porque o coloquei acima de mim. Mas por outro lado seria muita pretensão da minha parte que eu o colocasse aos meus pés. “O Amor não existe para ser rebaixado: ou está acima, ou acaba virando objeto de decoração”. Parece que no meu caso não há cálculo matemático algum, e muito menos errado. Não somei as compreensões e nem as imcompreensões – eu “apenas” tentei interpretá-las. Então acho que de errado o que fiz foi a análise dele: interpretei as compreensões e as incompreensões, e achei que só por ter amado uma vez seria capaz de amar para sempre.

PARA VOCÊ

outono

,e porque é maio e o sol entra sorrateiramente pela fresta do pouco de cortina que deixei aberta, e como um par entusiasmado me convida a rodopiar pelo quarto, a afastar os móveis e a rodopiar, até que o calor se instaure em meu corpo e me aqueça de forma que eu não sinta o vento gelado que invade a casa fria. E talvez porque nunca tenhamos passado em companhia um maio inteirinho, e talvez porque esse frio que vem junto com o mês seja um convite à reconciliação de mim para com o meu coração, ou então porque o outono é a época do ano em que nos sentimos mais solitários, e mais propensos a xícaras de chocolate quente e pipoca doce, talvez por isso eu esteja sonhando com um maio ao teu lado. E mesmo sabendo impossível que esse ou qualquer outro maio te tragam de volta para mim, acordo com aquela nostalgia de algo que nunca aconteceu, mas que foi ensaiado tantas e tantas vezes na minha ingênua imaginação, e me sinto então como uma caçadora de tesouros perdidos em busca do meu bem mais precioso: um olhar teu. E não, não me importo que o inverno esteja aí, batendo à porta, e nem me importo também se no inverno temos de arrumar muitos cobertores, e os de orelha também, e que talvez eu esteja perdendo tempo parada aqui, na sua... mas é que só desse jeito é que sei viver melhor. Porque seria uma pena, uma grande pena, se eu não te dissesse que sonho passar um maio em tua companhia, e seria uma grande perda de tempo se eu simplesmente saísse por aí, à caça de um ou dois cobertores que me esquentariam durante toda a próxima estação. Sim, uma grande perda de tempo, porque logo depois entraria a primavera, e então eu continuaria desejando seus olhos, e seu sorriso, já que a primavera é a época propícia para se sorrir por motivos aparentemente banais. Não que outras pessoas não poderiam sorrir comigo, mas é que o teu riso estaria atrelado à minha imaginação, e eu não conseguiria me libertar dele enquanto não o visse de verdade. E aí teria que esperar até outro maio, e então escrever de novo para ti, pedir de novo ao universo que te trouxesse para mim como um presente de outono, e mais uma vez eu perderia meu tempo parada na sua, mas seria essa a minha única recompensa.


É maio, e eu vou ficar aqui, à tua espera.

 
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